quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dor...

Esse é o único sentimento que consigo identificar. Não sinto fome, não sinto frio, não sinto nada. Sinto dor.

As amigas mais novas que tenho não conhecem minha família. Pois bem, vou descrevê-la um pouco.
Meu pai é um homem rígido, nos criou bem. Nos ensinou valores, nunca deixou nos faltar nada, brigou excessivamente comigo (eu acho) por que não conseguia aprender a tabuada. E até hoje não sei. Mas é um homem muito bom, ajuda muita gente, sempre nos deu de tudo, sempre se esforçou muito para que os filhos não passassem as necessidades que ele passou. Honesto, íntegro, e uma das pessoas mais bondosas que conheço. Mas com cara de bravo.
Minha mãe é daquelas pessoas que você não ouve falar nada a respeito. Discreta, não conversa muito com desconhecidos, tem raras amizades. Suporta todo o peso da família. Como todas as mães, eu acho. Engraçada, quando está de bom humor. Sempre trabalhou muito, nem sempre teve muito tempo pra gente, mas sabíamos que ela estaria lá quando precisássemos.
Minha irmã é doida. É aquele tipo de pessoa mais alternativa, sabe? Uma hippie fora da época. Gosta das artes, de músicas diferentes, escuta bandas que ninguém ouviu falar, trabalha muito e só reclama do trabalho. Mas reclama também se ficar sem dinheiro. É a mãe da minha sobrinha, Nana.
Meu irmão... Meu irmão é o caçula. Eu e ele temos 10 anos de diferença. Desde que ele nasceu, somos grudados. Troquei as fraldas, cuidei, dei limão para ele chupar quando me pediu uma laranja, andou pela primeira vez com a minha ajuda, a primeira palavra que falou foi meu nome, desenhava um rabisco esquisito e dizia que era uma Ferrari cor de rosa quatro portas, que ele me daria algum dia, dizia para todo mundo que ia casar comigo. Meu bebê.
Tentou o suicídio ano passado. Fiquei internada com ele dentro do hospital na ala psiquiátrica, teve alta. Se arrependeu do que fez. Voltou ao normal.
Madrugada de domingo: foi preso no centro de São Paulo com mais dois rapazes. Assalto à mão armada. Tudo em função das drogas. Foi transferido ontem para o CDP de Pinheiros.

Eu? Se eu precisasse me definir hoje, seria assim: NADA. Sou um amontoado de ossos, músculos e pele, sem função, sem razão, sem nada. Me sinto reduzida à nada.
Sei que em alguma parte do meu coração existe o amor que tenho pela minha família e pelo homem da minha vida, mas desde segunda não consigo encontrar esse amor. Sinto apenas muita dor, muita angústia, uma dor que corrói meu peito ao ver meu pai inchado de tanto chorar, minha mãe com o olhar perdido, minha irmã sem saber o que fazer e eu, que quase já não vejo a face diante do espelho.
Não durmo direito porque penso em como ele deve estar lá dentro daquele lugar. Não como pensando que ele deve estar com fome e não está aqui, comendo conosco. Está lá, recebendo comida azeda.
A dor que sinto é imensa. Nada pode ser maior que isso. Sei que agora nada pode arrancar essa dor do meu peito, e sei que nenhuma alegria pode ser maior que a dor que sinto.

Se alguém ler isso, peço que por favor me inclua em suas orações. Tenho medo de enlouquecer de tanta dor.

Espero algum dia voltar a escrever, a sentir, a viver. Espero que Deus esteja com meu irmão. Espero que eu acorde amanhã e tenha sido um pesadelo.

Obrigada aos que ligaram, escreveram, e aos que apenas pensaram em nós. Que Deus abençoe a todos.

Até algum dia.

7 comentários:

  1. Fê, não sei o que te dizer!
    Minha irmã leu seu comentário no facebook e me mandou uma msg no cel avisando. Pensei logo no seu irmão... mas jamais imaginaria isso.
    Só posso te dizer: você tem sido forte até agora, então, aguenta mais um pouco. Não deve ser fácil, mas, mais uma vez, você terá que ajudar as pessoas que você ama, e eu sei que você é capaz! Se precisar de qualquer coisa, estou aqui.
    Dizem que tudo na vida tem um porquê... às vezes, fico procurando esses "porquês" em algumas situações que ninguém explica, mas é uma forma de tentarmos parar e ver o que aquilo pode trazer-nos de bom e nos fortalecer com isso.
    Tem uma frase que gosto muito: "isso também vai passar", me ajuda nos momentos de tensão saber que o tempo não é estático, nem os acontecimentos. Dói, vai doer ainda bastante, mas vai passar. É um fato que vocês jamais vão se esquecer e talvez nunca superem completamente, mas vai passar e logo estarão todos aí sentados juntos, você seus pais, seus irmãos, sua sobrinha e, é claro, o grande amor de sua vida.
    Fica com Deus, que Ele guie os passos e as ações de vocês daqui para frente. Que Ele os inspire para saber quais as atitudes corretas a serem tomadas.
    Bjs, Célia

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  2. Estou aqui. Gostaria de te dar um abraço, pois nestes momentos as palavras fogem e no silêncio buscamos o conforto necessário. Beijo Andrea

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  3. Fê, não te conheço pessoalmente, mas sinto sua dor.
    reze muito que Deus nunca nos abandona! A dor está aí, mas ela passa e se transforma. Seja forte! ele vai precisar de vcs! Por mais que agora vc não se encontre, sei que vc está aí, portanto, seja forte que vc logo se reencontrará!
    Um abraço

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  4. Fe,
    Assim que a Jane me falou vim correndo te ver e te deixar meu ombro. Meu ombro que não é largo, mas tem o tamanho necessário para sua cabecinha. Te ofereço também os meus olhos para se fecharem para orar e deixarem correr as lágrimas pra te acompanhar. E o meu coração..nele cabe todo o meu sentimento de carinho por você e pela sua família.
    Te ofereço minha amizade minha flor.Se precisar pode me chamar quando for que eu corro...

    Te amo amiga! Deus vai mudar as vidas de vocês. Creia.

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  5. Fer querida, mesmo sem te conhecer gosto tanto de vc sabia... eu tô sem postar no blog, mas tô sempre aqui te acompanhando e fiquei muito triste mesmo com tudo isso.. sinto como se fossemos amigas ´reais´, e queria tanto te ajudar a ser sempre forte e encarar tudo isso... problemas com drogas sempre é muito difícil, temos um na família tb... por favor, gostaria de ajudar de alguma forma, nem que seja apenas conversando... me manda um mail? marinaness@yahoo.com
    por favor...
    bjss

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  6. Fê querida... difícil dizer alguma coisa nesta hora, mas pense que nesta vida nada é pra sempre, nem o bom, nem o ruim! Portanto você vai superar tudo isso e sair mais fortalecida.
    Reze, chore, extravase e sinta-se no direito de não ser tão forte. Estarei torcendo para que tudo se resolva! Sinta-se abraçada por mim! Grande Bjo

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  7. Eu, que sempre me considerei tão espiritualizada, vi que minha fé é pouca, frágil.
    Vocês fizeram com que eu percebesse isso, e acho que tudo o que está acontecendo está servindo para me ensinar o que é a fé.
    Amigas, obrigada. Meu coração está mais confortado porque vocês estão ao meu lado.
    E sei que posso atravessar tudo isso, porque não posso decepcionar quem tem essa fé em mim.

    Um beijo muito carinhoso no coração de todas.

    Fê.

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